Histórias do Olhar
Histórias do Olhar
Pacientes com glaucoma dão exemplo de superação na luta contra uma doença que pode causar a cegueira irreversível
Os depoimentos de um grupo de pacientes que convivem com o glaucoma servem de inspiração para pessoas que enfrentam essa mesma condição. Com histórias de superação que impressionam até especialistas em saúde ocular, esses homens e mulheres compartilharam um pouco de suas trajetórias durante o projeto 24 horas pelo Glaucoma, que foi ao ar no mês de maio e está disponível canal no Youtube mantido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Dentro da ação, organizada pelo CBO em parceria com a Sociedade de Brasileira de Glaucoma (SBG), foram exibidos depoimentos desses pacientes, que atestam a importância do tratamento precoce, da manutenção de hábitos saudáveis e da necessidade do acompanhamento de um médico oftalmologista. Desta forma, eles ajudaram a disseminar informações seguras e a estimular discussões sobre essa doença que afeta a visão.
Apesar dos riscos trazidos pelo glaucoma, especialistas ressaltam que o diagnóstico prematuro do problema aumenta consideravelmente as chances de interromper a progressão da doença. “Por isso, precisamos disseminar todas as informações necessárias para que cada vez mais pessoas façam exames preventivos e possam combater esse problema de saúde o mais cedo possível”, alerta Cristiano Caixeta Umbelino, presidente do CBO.
Além desse alerta, esses pacientes mostraram os benefícios alcançados com o ciclo de cuidados após a identificação da doença. Todos relataram sobre a necessidade do monitoramento regular dos cuidados junto ao oftalmologista e do uso de medicamentos específicos para tratamento do problema. No entanto, apontam, essas mudanças de rotina não representam um prejuízo à autonomia ou à qualidade de vida, mas, sim, uma ferramenta na luta contra o glaucoma.
A seguir, conheça as histórias de alguns pacientes e familiares que concederam depoimentos ao projeto 24h pelo Glaucoma
Alex Anthony – A trajetória de Alex contra o glaucoma começou cedo, quando sua mãe o levou ao oftalmologista depois de perceber que um dos seus olhos era maior que o outro. Aos dois anos de idade, ele foi diagnosticado com a doença, quando o lado direito do aparelho de visão já tinha apenas 10% de eficiência. Hoje, por ter a plena saúde do olho esquerdo, Alex relata que não enfrentou dificuldades relacionadas à condição de baixa visão ao longo da vida. “Eu cresci acostumado a ter apenas um lado que enxerga, então minhas limitações foram relacionadas apenas à restrição de algumas práticas esportivas de contato, onde eu poderia ser vulnerável no meu lado direito, como nas artes marciais”, relata. Como uma ironia ao que supostamente estaria destinado a Alex, hoje ele trabalha com audiovisual, executando trabalhos nas áreas da publicidade e marketing digital.
Assista ao depoimento de Alex Anthony
Arthur Oncean – Com 30 anos, ele se lembra de quando descobriu o glaucoma há duas décadas e ressalta a importância do diagnóstico e do tratamento precoces. “Quando criança, não somos capazes de entender a gravidade da doença. Hoje consigo perceber como a descoberta prematura dessa condição foi fundamental para que eu possa ter uma visão estabilizada atualmente”, explica. Professor de educação física e adepto da prática circense do Tecido Acrobático, Arthur é um dos exemplos que mostram que ter a doença não significa, necessariamente, um comprometimento da visão. “Não tive nenhuma perda de visão ao longo desses anos e devo isso aos cuidados dos médicos oftalmologistas que me acompanharam e à atenção cuidadosa da minha mãe. Hoje, quando subo no tecido acrobático, percebo tudo que sou capaz de fazer. Me sinto voando com a minha própria força”, expressa Arthur.
Assista ao depoimento de Arthur Oncean
Beatriz Stuart - Mãe de Luciano Stuart, de 16 anos, Beatriz explica que a boa relação familiar foi fundamental para estimular a autonomia do filho, diagnosticado com a doença aos dois meses de vida. “Ser mãe é um desafio por si só, mas, quando Luciano nasceu, eu sabia que teriam outros desafios que precisariam ser enfrentados, com meu apoio e de toda a família”, explica. A advogada relata que, na época, o teste do olhinho já era um direito garantido por lei, mas que o procedimento não foi realizado, retardando o diagnóstico da doença que provocara a perda do olho esquerdo do seu filho aos quatro meses. Isso acende um alerta sobre a necessidade de monitorar o que está instituído por lei, a fim de garantir a execução dos procedimentos neonatais conforme orientam os especialistas em saúde dos olhos. “Luciano já enfrentou dificuldades, mas sempre buscou ser um sujeito autônomo”, revela Beatriz, que descreve seu filho como um homem que supera suas limitações, com alta destreza no uso da tecnologia e um talento especial ao judô, modalidade esportiva em que disputa campeonatos.
Assista ao depoimento de Beatriz Stuart
Charliane Maciel - Quando se trata da forma congênita do glaucoma, a doença traz fortes preocupações principalmente para as mães. Foi o caso de Charliane, mãe do João Guilherme, de 9 anos, que recebeu o diagnostico aos 3. “Precisamos reconhecer o glaucoma como uma condição que precisa ser tratada, que traz limitações, mas que não representa o fim de nenhuma história. Na verdade, ele é a possibilidade de explorar novos rumos”, comenta, essa jovem mulher que assumiu a profissão de boleira para ficar mais próxima dos cuidados relacionados ao filho. Com o tempo, aprendeu a lidar com as dificuldades sem medos e hoje reconhece a necessidade de estimular a autonomia da criança portadora do glaucoma.
Assista ao depoimento de Charliane Maciel
Evandro Sampaio – Atualmente com 57 anos, Evandro foi diagnosticado com glaucoma aos 16, depois de ser encaminhado ao oftalmologista com queixa de dor nos olhos. Sete anos após perder a visão (perto dos 40 anos) resolveu criar o Movimento Capixaba de Glaucoma, com o objetivo principal de alertar a população sobre a doença. “Nosso movimento destaca que visitas regulares ao oftalmologista são importantíssimas. É preciso ficar atento, pois o glaucoma é uma doença assintomática”, lembra ele, que já trabalhou com turismo organizando excursões. Agora, esse conhecimento está sendo usado em um projeto dele com seu filho Leonardo, de 11 anos, que montou um canal no YouTube chamado Turismo às Cegas. Juntos, eles compartilham com seu público histórias de viagens em família. Essas e outras histórias mostram como conviver com o glaucoma é um exercício que dialoga com a individualidade de cada um dos pacientes. Apesar de pequenas mudanças na rotina, vale a pena descobrir novos caminhos que podem ser traçados.
Assista ao depoimento de Evandro Sampaio
Gilvanês Bakai - Diagnosticada com glaucoma aos 40 anos, Gilvânes Bakai é um bom exemplo de como a boa relação entre médico e paciente é fundamental para o êxito do tratamento. “Descobri que estava com essa doença em uma consulta de rotina com o oftalmologista. Na mesma época, descobri que meu filho também estava com a visão em risco por conta do glaucoma, o que me deixou muito assustada e acendeu um alerta em toda a família”, relata a agente da polícia federal. Praticante de natação, hidrobike e meditação, ela segue uma vida saudável. “Isso faz diferença para qualquer um e ajuda a enfrentar desafios de forma geral, inclusive o glaucoma”, destaca. Graças aos profissionais da oftalmologia que a acompanham, a agente policial comemora a estabilização desse quadro.
Assista ao depoimento de Gilvanês Bakai
Ricardo Aleixo - Escritor e artista visual, Ricardo começou a ter complicações com a visão aos 18 anos, quando em uma partida de futebol foi atingido por uma bola no olho direito. Desde então, começaram as complicações com seu parelho de visão, sendo que só conseguiu o diagnóstico fechado para o glaucoma perto dos 60 anos, quando a doença já estava em grau avançado no seu olho esquerdo. Hoje, o autor de 13 livros e cineasta com filmes apresentados festivais destaca a importância de falar não só sobre o glaucoma, mas acerca de todas as doenças que afetam a visão “Vivemos em uma sociedade ‘olhocêntrica’, onde tudo gira entorno da visão, logo, para fazer jus a isso, precisamos massificar as discussões sobre o glaucoma e todas as demais enfermidades que afetam os olhos”, pondera.
Assista ao depoimento de Ricardo Aleixo