Código: RC129
Área Técnica: Retina
BAIXA VISUAL AGUDA APOS TRANSPLANTE DE MEDULA OSSEA AUTOLOGO
Complicação ocular incomum em paciente pós transplante de medula óssea (TMO) autólogo, evidenciando os diagnósticos diferenciais e reforçando a importância de uma anamnese criteriosa para direcionamento adequado do diagnóstico oftalmológico.
M.S.H., 54 anos, feminina, procedente do DF com histórico de mieloma múltiplo IG Kappa DS IIIA, submetido a TMO autólogo, com queixa de baixa visual bilateral aguda e progressiva há 24 horas. Encaminhada por suspeita de infecção ocular oportunista. Antecedentes patológicos: mieloma múltiplo, DM tipo 2 secundário a corticoterapia, HAS há 3 anos descompensada após o TMO. Exame oftalmológico: AV de conta dedos (OD: 2m e OE: 0,5m), biomicroscopia de segmento anterior sem alterações bilateralmente, PIO de 10 mmHg em ambos os olhos. Exame de mapeamento de retina: edema de mácula com descolamento seroso do polo posterior, pontos de hemorragia intrarretiniana e exsudatos algodonosos – sinais característicos de retinopatia hipertensiva. Após controle da HAS o quadro retiniano involuiu, mas AV final foi de 20/100 em OD e conta dedos há 2 metros em OE.
O paciente apresentava diagnóstico de mieloma múltiplo, sendo o TMO autólogo o padrão terapêutico indicado. Apesar do criterioso acompanhamento após o TMO, são frequentes as complicações nesses pacientes devido a condição de imunossupressão. Dentre tais complicações, destacam-se os graves danos oculares como ceratoconjuntivite seca associada a doença do exerto-versus-hospedeiro, a catarata, as alterações isquêmicas microvasculares retinianas (por uso contínuo de ciclosporina) e as frequentes infecções oportunistas facilitadas pela terapia de imuno supressão, como a retinite por citomegalovírus. Após a reavaliação do paciente e do histórico patológico, no entanto, aventou-se a suspeita de retinopatia hipertensiva, visto que apresenta HAS como comorbidade. Assim sendo apesar da retinite por CMV ser uma complicação comum pós TMO, o caso chama atenção para outras causas de baixa visual que devem ser consideradas, como a retinopatia hipertensiva.