Título

HANSENIASE NEURAL PURA: ACOMETIMENTO OCULAR MULTIFATORIAL DO SEGMENTO ANTERIOR POR INERVAÇAO DEFICIENTE

Objetivo

A Hanseníase Neural Pura (HNP) cursa com dano nervoso pelo Mycobacterium leprae na ausência de inflamação cutânea. A HNP acomete 3 a 10% dos pacientes com hanseníase.
O objetivo do trabalho é descrever aspectos da HNP relacionados ao segmento anterior do olho, dado que o é Brasil região endêmica e possui parcela importante do número de casos no mundo.

Relato do Caso

Paciente do sexo masculino, 36 anos, pardo, HNP há 9 anos, com déficit nervoso ocular a esquerda e em pé direito. Compareceu ao serviço queixando-se de dor ocular à esquerda há 3 dias. Ao exame oftalmológico: acuidade visual corrigida 20/20 em olho direito (OD) e 20/40 em olho esquerdo (OE). Fenômeno de Bell preservado. Lagoftalmo grau 2 (4mm) Biomicroscopia: hiperemia conjuntival, injeção ciliar, ceratite punctata, ruptura do filme lacrimal imediata, áreas de desepitelização corneana e pterígio nasal em OE. Pressão intraocular: 11 mmHG em ambos os olhos (AO). Fundoscopia: sem alterações em AO. Tratamento iniciado com uso de lágrimas artificiais sem conservantes e pomadas lubrificantes. No 7º dia apresentou reepitelização, redução de sinais flogísticos e ruptura do filme lacrimal em 12 segundos.

Conclusão

O acometimento ocular na hanseníase é estimado em 70%, com cegueira em cerca de 5%. O tropismo por partes mais frias aumenta a frequência de lesões no segmento anterior, raramente acometendo regiões posteriores ao equador. O lagoftalmo é a principal alteração de anexos.
O dano nervoso ocular envolve os nervos facial e trigêmeo. O acometimento do facial causa lagoftalmo e ceratopatia de exposição. Já o do trigêmeo causa hipoestesia corneana e ceratite neurotrófica. Tais lesões causam opacidades corneanas e tem grande potencial de evolução, pois o dano é hipossintomático. A gravidade do lagoftalmo depende do estado corneano, do déficit de fechamento palpebral e do Fenômeno de Bell.
O tratamento precoce reduz sequelas e preserva a acuidade visual. Nesse caso, a lubrificação eficiente precoce com acompanhamento regular foi essencial para manutenção da transparência corneana e da visão do paciente.