VASCULOPATIA POLIPODAL DA COROIDE ATIPICA E TUBERCULOSE OCULAR - CAUSA OU CONSEQUENCIA?
Relatar caso de Vasculopatia Polipoidal da Coroide (VPC) de apresentação atípica em paciente com diagnóstico presumido de Tuberculose (TB) Ocular sem manifestações sistêmicas.
Homem, 61 anos, negro, portador de catarata bilateral, relatando episódio de baixa acuidade visual (BAV) em olho esquerdo (OE), de início súbito e indolor. Negava doenças sistêmicas. Acuidade visual corrigida (AV) em olho direito (OD) era de 20/40 e OE contava dedos a 2 metros. Fundoscopia evidenciou lesões subretinianas vermelho-amarronzadas elevadas em região temporal em ambos os olhos (AO); inferiores e superiores ao disco óptico em OD; e, em OE, inferiores ao disco, alcançando região macular e poupando fóvea. Angiofluoresceinografia avultou áreas hipofluorescentes por bloqueio hemorrágico em regiões justadiscal superior e inferior em OD, e inferior e em feixe papilomacular em OE, sugestivas de VPC em AO. Durante rastreio infeccioso, prova tuberculínica de 20mm elucidou quadro de TB ocular, sem evidências de infecção pulmonar ativa. O paciente negou contactantes ou acometimento prévio por TB. Iniciou-se tratamento com antituberculínicos e aplicações de anti-VEGF mensais em AO e, após 6 meses, houve melhora significativa dos aspectos fundoscópicos, com AV 20/30 em OD e 20/40 em OE, sem necessidade de novas injeções.
A forma ocular da TB representa 1% dos casos da doença. Diversos sinais clínicos são observados em pacientes com TB ocular, porém a VPC isolada é rara e poucos casos foram descritos na literatura. Essa condição incomum é predominantemente bilateral e afeta a vasculatura coroidal interna, resultando em danos na retina sobrejacente e relacionando-se à BAV. Sua prevalência é maior em pessoas a partir de 60 anos e em negros e asiáticos. O tratamento mais comum para VPC consiste em injeções intravítreas de anti-VEGF, que resultam na redução do extravasamento sanguíneo. Quando correlacionada à TB ocular, o tratamento apropriado dessa condição também pode levar à regressão da lesão coroidal, conforme observado neste caso.
Retina
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Espírito Santo - Brasil
LUISA SOLDATI BASTOS REZENDE, LEONARDO FAVARO PEREIRA, THIAGO CABRAL