Código: RC058
Área Técnica: Neuroftalmologia
AGNOSIA VISUAL COMO DIAGNOSTICO DIFERENCIAL DE PERDA VISUAL A ESCLARECER
Relatar caso de agnosia visual como primeira manifestação da atrofia cortical posterior (ACP) no diagnóstico diferencial das perdas visuais.
Mulher, 76 anos, com perda visual progressiva há dois anos e sem outros sintomas. De antecedentes, apresentava hipertensão arterial e hipotireoidismo. Ao exame oftalmológico, a acuidade visual máxima era 20/400 em ambos os olhos (AO) na tabela de Snellen (com letras do alfabeto). Com a tabela de optotipos (utilizada para pessoas não-alfabetizadas), a acuidade visual foi 20/30 AO. Reflexos pupilares normais e sem defeito aferente relativo. Biomicroscopia e fundoscopia sem alteração significante em AO. Campimetria computadorizada sem alterações, assim como OCT do nervo óptico e mácula. Ressonância magnética de crânio demonstrou atrofia dos giros corticais bilateralmente sugestivos de ACP. Avaliação neuropsicológica mostrou dificuldade de percepção significativa frente a imagens e figuras complexas compatíveis com simultanagnosia secundária a ACP.
Nossa paciente apresentou simultanagnosia (um tipo de agnosia visual) que é caracterizada por redução na habilidade de integrar imagens (inclusive letras) percebidas pela visão a fim de formar um objeto passível de reconhecimento. A simultanagnosia é um dos sinais observados nos pacientes com ACP, uma variante da doença de Alzheimer. Diante do exame oftalmológico normal (inclusive reflexos pupilares, campo visual e OCT), suspeitamos inicialmente de perda visual funcional (histeria ou simulação). Entretanto, como o perfil epidemiológico não era compatível com este diagnóstico, formulamos a hipótese de perda visual secundária a causa central. Com isso, optamos por repetir o teste da acuidade visual usando a tabela de optotipos (de fácil reconhecimento) e obtivemos uma resposta praticamente normal em ambos os olhos. Embora não seja uma causa frequente de perda visual, agnosia visual deve ser considerada nestes pacientes que não apresentam alterações significantes ao exame oftalmológico.